Agricultura Comunitária

Artigos e práticas de agricultura comunitária e familiar

quinta-feira, agosto 24, 2006

Assentamentos e Meio Ambiente

O Pontal do Paranapanema, considerado a segunda região mais pobre do Estado de São Paulo, tem sua economia baseada principalmente na exploração agropecuária, pelo cultivo de cana-de-açúcar.


No final da década de 80, com a chegada do Movimento dos Sem Terra (MST), a região tornou-se cenário de grande conflito na luta pela terra, resultando atualmente em 102 assentamentos rurais, com aproximadamente 6 mil pequenos produtores que sobrevivem da agricultura familiar.


Os assentamentos de reforma agrária, em sua grande maioria, têm sua matriz tecnológica de produção embasada no sistema imposto pelo convencionalismo da “Revolução Verde”, que exige grandes inputs de insumos externos, principalmente no tocante a agroquímicos e a sementes melhoradas. Isso cria uma dependência cada vez maior de um modelo agrícola pouco sustentável para a pequena agricultura familiar (Caporal e Costabeber, 2004). O modelo composto pela “Revolução Verde”, iniciada no pós-guerra, criou tecnologias que proporcionavam aumento da produtividade agrícola, com uso de adubos químicos, seguido pela inserção dos pesticidas de amplo controle, fazendo o uso de sementes melhoradas, muito delas híbridas, ou seja, com baixa ou nenhuma capacidade de reprodução (Silva e Fay, 2004).



Toda essa evolução na produção agrícola resultou em grande ônus ambiental e para a agricultura familiar. As novas tecnologias de substituição, amplamente difundidas, implicaram grande perda de conhecimento tradicional dos camponeses, que possuíam através do manejo racional dos bens da natureza, vem sendo dizimado por esse processo (Caporal e Costabeber, 2004). Esse modelo levou os pequenos produtores a ficarem cada vez mais dependentes da política de crédito agrícola, na qual as orientações da assistência técnica empunhavam a utilização do “Pacote Agrícola”, a base de aquisição de adubos químicos, inseticidas, (muito deles contendo forte impacto ambiental e na saúde do produtor) e sementes, que estão evoluindo para sementes transgênicas, criando dependência de um novo “Pacote Tecnológico”.



A sutileza que foi submetida à perda de conhecimento camponês influenciou não só na produção agrícola, mas também no que diz respeito à cultura familiar ancestral, principalmente no que se refere à medicina alternativa e à diversidade alimentar, que eram repassados através da hereditariedade natural. A cultura de suficiência alimentar, que era produzida pelo próprio agricultor no lote, atualmente é substituída pela diversidade do supermercado e dinamizada pela moderna mídia, que resulta em uma enxurrada propagandista para o consumo de produtos processados. Apesar da facilidade na informação sobre os produtos processados, o seu acesso é relativamente restrito, pois a baixa geração de renda da propriedade propicia a aquisição muito limitada e pouco diversa de gêneros alimentícios, desencadeando uma alimentação desbalanceada, a base de uma dieta de açúcares e carboidratos com pouca variedade de fibras e proteínas.


Devido ao processo de ocupação sem critérios, a exuberante Mata Atlântica, que antes predominava na região, sofreu drástica redução em sua cobertura florestal, restando hoje apenas 1,85% da cobertura original. A maior parte do que resta é o Parque Estadual Morro do Diabo (37 mil hectares) e alguns fragmentos em propriedades privadas e assentamentos (Dean, 1995). Como conseqüência, do modo de ocupação da Reserva do Pontal, houve grande concentração de terras devolutas em poder de poucos fazendeiros, com 8% dos proprietários rurais detendo a posse de 75% dos 260 mil hectares da Reserva (CATI, 1996). As grandes extensões de pastagem impedem a conectividade entre os fragmentos florestais remanescentes, levando ao isolamento muitas espécies, entre elas o Mico-Leão-Preto (Leontopithecus chrysopygus), um dos primatas mais ameaçados de extinção do planeta (Valladares-Pádua e Cullen, 1995, IUCN Red Data Book).


Caso o modelo de exploração convencional adotado pelos produtores da região perpetue sem preocupações ambientais, poderá por em risco o que resta das florestas do Pontal, bem como exaurir os recursos naturais disponíveis por conta do uso predatório e indiscriminado dos sistemas agrícolas atualmente empregados.

Jefferson Ferreira Lima
Tecnologia pela Fundação Banco do Brasil em 2005